O American Pit Bull Terrier (APBT) é, por natureza, um cão alegre, ativo e de ótimo convívio familiar. Suas origens remontam ao uso em combates sangrentos com outros animais. Dessa origem explica sua fraca adaptação à vivência em matilha e a rusticidade que permanecem até os dias atuais.
Nossa criação é composta por animais de grande sociabilidade ao ser humano e por isso pouco se presta à guarda patrimonial. Nosso foco sempre foi e continua sendo o de produzir animais de conformação, mas com total aceitação a humanos.
A história da raça em detalhes
A história do American Pit Bull Terrier tem início no século XVIII. Era o período do apogeu do Bulldog e da atividade de bull baiting e/ou bear baiting, relacionada a lutas entre Buldogues e Touros ou entre Buldogues e ursos respectivamente ( figuras 1 e 2) e, posteriormente, a luta entre cães (figura 3).
O Bull baiting e o Bulldog
Bull baiting era um “esporte” que consistia em atiçar os bulldogs contra um touro amarrado pelo pescoço (figura 4) para que estes pudessem derrubá-lo mordendo-o pelo nariz.
O bullbaiting era uma atividade tão entranhada no dia a dia que alguns distritos possuíam leis proibindo a venda de carne de boi que não houvesse passado pelo baiting. Acreditava-se que assim a carne ficava mais macia e nutritiva.
Comparando com as touradas, que ainda hoje mobilizam multidões, a prática de deixar um cão derrubar um touro pelo nariz pode não parecer tão cruel assim. Só que o “esporte” não consistia apenas em deixar um cão derrubar o touro antes deste ser abatido. Havia requintes de crueldade tanto com os touros quanto com os Bulldogs.
A maioria dos relatos e figuras da época indicam o uso de um Bulldog bem diferente do Bulldog Inglês dos dias atuais. Nenhuma pintura que represente o bullbaiting mostra um animal com a morfologia do moderno bulldog, mas sim cães bastante semelhantes ao pit bull. De toda forma, é aceito que o bulldog derivou dos mastiffs. Estes últimos possuem ligação direta com antigos molossos que habitavam a Europa e, em tempos oportunos, muito utilizados na guerra e na caça.
No início das lutas de cães, o bulldog ainda era o cão mais utilizado pelos baiters. Não demorou muito para que os organizadores das rinhas percebessem que, embora o pesado bulldog, com seus 35-45kg (figura 4), fosse um excelente combatente contra touros, um cão mais leve e ágil seria mais apropriado para as lutas de cães.
Para atingir este objetivo, o bulldog foi cruzado com diversos tipos de “game terriers” (figura 5), daí resultando o bull-and-terrier (não confundir com o bull terrier), posteriormente denominado staffordshire bull terrier. Em 1866, no livro Researches into the History of the British Dog, o autor George Jesse escreveu: “O bull-and-terrier, por sua maior agilidade, superou o bulldg nos combates no pit”.
Muito tempo se passou até que o bull-and-terrier se tornasse razoavelmente homogêneo e reconhecível como uma nova raça. No início, não se cruzava um bull-and-terrier com outro bull-and-terrier, mas sempre um bulldog com um terrier. Somente a partir de 1850 eles começaram a se homogeneizar.
Um dado interessante que explica a grande diversidade de características físicas desses cães é o segredo mantido pelos criadores do século XIX acerca de seus métodos de criação. Mesmo quando registrados em papel, o que era raro, os pedigrees não eram divulgados, por receio de que os rivais descobrissem o segredo do sucesso e pudessem replicá-lo.
Em todo caso, em meados do século XIX os bull-and-terrier já tinham adquirido todas as características apreciadas nos dias de hoje: capacidade atlética, gameness incomparável e temperamento afável.
Embora criado num passado recente e razoavelmente documentado, a origem do pit bull é um pouco nebulosa e está dividida, há quem defenda que o Pit Bull é exatamente o antigo bulldog e que a inserção de sangue terrier não foi significativo. Outros defendem a ideia de que o Pit Bull é o resultado do cruzamento do bulldog com os game terriers, o que em nossa visão é o mais provável , pois há muita semelhança entre o comportamento de terriers como o Jack Russel e o Patterdale e dos pequenos Pit bulls das linhagens ditas “de combate”. A independência, a obstinação (muitas vezes considerada teimosia), a agressividade em relação a outros cães e a forma como pulam são atributos comuns a ambos.
A chegada à América do Norte e formação do American Pit Bull Terrier
O resultado da fixação do bull-and-terrier foi o cão que ainda hoje é conhecido como staffordshire bull terrier. Fotografias da segunda metade do século passado mostram claramente que era este o cão utilizado nas lutas de então na Inglaterra e que foi trazido para os Estados Unidos. Um exemplo documentado é uma fotografia de um famoso dog man inglês de então, Cockney Charles Lloyd, que trouxe vários cães da Inglaterra. Um desses cães, Pilot, aparece numa foto de 1881 e é claramente um staff Bull (figura 6). Pilot veio a ser um dos pilares da linhagem Colby, através do lendário Colby’s Pinscher (figura 7).
Como já relatado, os ancestrais imediatos do Pit Bull foram os pit fighting dogs importados da Irlanda e Inglaterra a partir de meados do século XIX.Na América do norte, especialmente nos EUA, a raça começou a divergir ligeiramente do que estava sendo produzido naqueles países de origem. Os cães não foram utilizados apenas para rinhas, mas também como catch dogs – presa de gado e porcos desgarrados – e como guardas da propriedade e da família (figura 8). Daí começaram a serem selecionados cães de maior porte, mas esse ganho de peso não foi muito significativo até cerca de 20 anos atrás.
Os cães irlandeses, os famosos Old Family Dogs, raramente pesavam acima de 12kg e cães de 7kg não eram raros. O anteriormente citado LLoyd’s Pilot pesava 12kg. No início do século, eram raros os cães acima de 23kg. De 1900 a 1975, houve um aumento pequeno e gradual no peso do Pit Bull, sem que houvesse perda de desempenho no pit.
Nas mãos dos criadores americanos, o Pit Bull se popularizou a ponto de ser símbolo dos Estados Unidos na 1ª Guerra Mundial. Homens como Louis Colby, cuja família mantém até hoje uma tradição de 109 anos, C.Z. Bennet, fundador do United Kennel Club (UKC) e Guy McCord, fundador da American Dog Breeders Association (ADBA), foram fundamentais na consolidação da raça.
Sua popularidade atingiu o auge na década de 1930, quando o seriado infantil Little Rascals (traduzido como “Os Batutinhas”, no Brasil – figuras 9 e 10) era estrelado por Petey, um Pit Bull: era o cachorro favorito de 10 entre 10 crianças americanas. Esta projeção levou finalmente o American Kennel Club (AKC), após anos de pressão, a reconhecer o Pit Bull com o nome de Staffordshire Terrier, para diferenciá-lo dos cães voltados para rinhas. Este cão é hoje o American Staffordshire Terrier, tendo o “American” sido acrescido ao nome original em 1972 para evitar confusão com o Staffordshire Bull Terrier.
Nos dias de hoje, quando a vasta maioria dos APBT não é mais selecionada para a performance tradicional no pit (compreensível, já que o processo seletivo em si – o combate – é crime), o axioma americano “bigger is better” passou a valer para vários neófitos que se tornaram criadores, aproveitando a popularidade da raça nos anos de 1980.
Isto resultou num aumento vertiginoso no tamanho médio do Pit Bull, muitas vezes de forma desonesta, pelo cruzamento com raças como Mastiff, Mastim napolitano e Dogue de Bordeaux.
Apesar de tal modificação, a raça tem mantido uma notável continuidade por cerca de 150 anos. Pinturas e fotos do século passado mostram cães idênticos aos dos dias de hoje (figuras 11, 12, 13, 14, 15). Embora pequenas diferenças possam existir entre algumas linhagens, no geral temos uma raça que, ao contrário de muitas outras ditas “reconhecidas”, está consolidada há mais de um século
A ADBA é hoje a entidade de registro mais preocupada em manter o padrão original da raça. Hoje, o grande desafio da ADBA é preservar tanto quanto possível as características originais do Pit Bull, de modo que as futuras gerações possam ao menos conhecer um cão que manteve a estrutura dos antigos cães de combate. O padrão da ADBA foi estabelecido com base na descrição da estrutura ideal de um cão de combate feita por pessoas ativas nas lutas de cães nos anos 1960 e 1970. Ainda há uma forte preocupação com o temperamento, sendo as competições de tração, ou “ weight pulling”, a forma de determinar se o cão possui a tenacidade, ou “gameness”, à altura de seus antepassados. A ADBA reconhece que as lutas de cães são hoje uma atividade moralmente inaceitável, mas cultiva um grande respeito por todos os “dog men” do passado – John P. Colby, George Armitage, Joe Corvino, Earl Tudor, Bob Wallace, Bob Hemphill, Howard Heinzl, Ralph Greenwood, Jake Wilder e tantos outros – que nos brindaram com este animal incomparável que hoje é o American Pit Bull Terrier.
Texto: baseado na adaptação de Vanessa Alves (HAPK Kennel) que, por sua vez, se embasou em literaturas dos Drs. Carl Semencic, Dieter Fleig, Diane Jessup e Richard Stratton.
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